terça-feira, 25 de junho de 2013

Curaçá planeja movimento em prol de melhorias

O Brasil está em ebulição e a onda de protestos que se alastrou pelos quatros cantos da país chega a Curaçá. Na noite de ontem (24), um grupo de 40 pessoas se reuniram na Praça Raul Coelho para discutir os rumos da cidade. O encontro foi idealizado por estudantes que participaram, na última quinta-feira, da primeira manifestação no Vale do São Francisco e foi difundido para outros militantes da sociedade curaçaense através da internet. Na reunião foram delineadas estratégias para mobilização de participantes, da Sede e do Interior do município, discutido os principais pontos de reivindicações e escolha de nome para o movimento.

Participantes do 1º Encontro do #CURAÇÁnaLuta! Foto: Luciano Lugori

Batizado de “Curaçá na Luta!”, o grupo manifestou-se a favor dos protestos que vem acontecendo em todo o país e na região sanfranciscana e pontou vários problemas que assolam a cidade. Dentre eles, pode-se destacar a insatisfação dos moradores com a atual situação da BA 210, trecho Curaçá-Paulo Afonso. Os manifestantes também reivindicarão melhorias na educação pública, saneamento básico e iluminação nos bairros Salvador Pereira Lima e Bambuí, incentivo à cultura, ao lazer e a arte, esclarecimentos sobre a atual situação da saúde, outros serviços de telefonia móvel, melhores condições do transporte alternativo e redução do preço das passagens, residência fixa de autoridades na cidade etc. Conforme foi deliberado, será feita uma carta aberta à comunidade apontando todas reivindicações do movimento e encaminhada aos órgãos públicos e à imprensa. 

Ainda não foi definida a data para a realização dos protestos. Para a estudante Anne Gabrielle, uma das mobilizadoras do movimento, o grupo tem que agir com cautela, já que a cidade é pequena e as pessoas costumam associar todos os atos a grupos políticos partidários. “O movimento não deixa de ser político, mas é bom deixar claro que não existe bandeira A ou B no condução dos trabalhos. Aliás, também reivindicamos a moralização da política nacional”, concluiu a militante. 

Os manifestantes declararam total apoio as reivindicações do Movimento “O Valeu Acordou”, que tem levado milhares de pessoas às ruas, mas demonstraram-se insatisfeitos e não contemplados nos protestos, já que as manifestações não incluíram todas as cidades sanfranciscanas. “Curaçá também é Brasil e, apesar de pertencer ao Vale do São Francisco, em parte, não me sentir representado pelo Movimento O Vale Acordou, pois os protestos se limitaram, principalmente, aos problemas sociais de Juazeiro e Petrolina, deixando outras cidades de fora. Isso nos motivou a criar um movimento local, que esteja de acordo com a nossa realidade”, revelou a estudante Adriana Carvalho. 

O Movimento “Curaçá na Luta!” pretende levar centenas de pessoas às ruas. Todo evento será articulado, principalmente, pela internet por meio das redes sociais. Os encontros para discussão de ideias e organização de manifestos serão realizados em espaços públicos e abertos à comunidade em geral.

Movimento #CURAÇAnaLuta!

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Viva os loucos!

No último sábado, ao chegar da faculdade, desci na Orla de Curaçá, juntamente com o pessoal da Associação de Estudantes, para participar de um evento em comemoração à Semana do Meio Ambiente. Chegando lá ‘dei de cara’ com Chupila e logo corri para abraçá-lo. E, claro, tirar uma foto. Estava empolgadíssimo com aula que eu tivera pela tarde com o professor João José. Tinha tido orientações para meu Projeto de TCC que falará da loucura e dos “doidos” de Curaçá. Estou fascinado pelo tema, pelas leituras, pela própria loucura, pelos loucos. 

Chupila anda rua acima e rua abaixo, dando repetitivos e incansáveis pinotes, com uma mão na boca, pedindo uma moeda, se fazendo de besta. Dizem até que ele é um “oculista de bêbados”. Ele é uma figura. Dessas que, de tempos em tempos, surgem em Curaçá, cada uma com a sua particularidade. Chupila briga, corre atrás do povo, faz-se louco, faz medo, arranca de nós uma boa gargalhada, é cheio de histórias.


Chupila e Lugori    Foto: Adriana Carvalho



Assim é Curaçá. Com uma história de quase 200 anos, considerando apenas o tempo em que o antigo aldeamento do Pambú se constituiu Vila, a cidade sempre apresentou “personagens” carismáticos “tachados” como loucos e outros tantos “normais”, mas que por um motivo ou outro perdeu a dita “razão” e foram lançados no berço do esquecimento e do desprezo .

E foram muitos! A convivência com esse “estado de loucura” fez com muitos deles se tornassem patrimônio cultural da cidade. Zé doido, Domingão, Zé Pretinho, João Pescocinho, Macacuí, Gilberto Doido, Jorge Doido, Boscão, Neném Pitaca, Priquitinho de Tote, Jacutinga, Maria Quitéria, Goeszinho, Valney, Damião, Lalá e Chupila são apenas alguns nomes que fizeram e fazem parte deste cenário. Cada um com o seu “problema”, clínico ou não.

Ai que saudades de Domingão. Sobre ele, o grande Walter Araújo disse "Domingos fez parte daquelas criaturas que nos permite refletir, circunstância tão incomum no mundo de hoje. Impossível esquecer ser jeito sorrateiro, seu sorriso-gargalhada, sua mão estendida. Todavia, o que traz a reflexão era seu olhar humilde, quase uma súplica. E sua condição de indefeso diante de nossas arrogâncias. Em qualquer ambiente chegava acanhado, tímido, como se pedindo permissão para entrar. Se, como dizem, os olhos são a janela da alma, vi isto muito nítido na humildade do olhar de Domingos"


Sobre João Pescocinho, o sociólogo Esmeraldo Lopes revelou “João Pescocinho vivia a pregar onde quer que houvesse gente. Em suas pregações, declarava que havia sido recomendado por Deus para ajudar na remissão dos pecados do mundo. Fui a ele fazer uma entrevista. Ele me puxou para dentro do seu casebre, procurando escondido. Cochichou nos meus ouvidos: "Meu filho, cuidado! Se eles lhe verem comigo podem até lhe matar. O mundo tá cheio de cão. Quer ser meu ministro? Só que você não pode falar para ninguém, para evitar perseguição. Todos lhe declaravam louco e ninguém lhe ouvia. Na entrevista foram delineando seus planos: matar a fome do povo, evitar a prostituição, fazer chover, dá boa remuneração para os soldados não cometerem corrupção"

Em Curaçá tem louco que se faz de louco. Josiná Possidônio da Silva, conhecido como Lalá, ele mesmo me contou (mas não mostrou) tem até atestado de loucura. No entanto o próprio revelou que foi treinado por um amigo (ele imita direitinho) para enrolar o pessoal do Previdência e conseguir a sua aposentaria. E conseguiu! Mas trabalha normalmente limpando esgotos da cidade e, apesar de apresentar um comportamento considerado normal, a sociedade ainda o considera como um doido. Isso talvez esteja associado às suas vestimentas, à falta ou pouco cuidado com a própria higiene ou ainda o fato de ser uma espécie de “jornalista” que sabe tudo dos outros. E o pior é que ele não sabe guardar segredos. Para muitos, o seu comportamento é reprovado. Ele não tem papas na língua.

Na sociedade curaçaense existem pessoas que são classificadas como “loucas” apesar de não ter a figura do médico para assim diagnosticá-las. Essas, ao contrário, são assim chamadas por apresentarem comportamentos considerados anormais e são de igual modo “excluídas”, marginalizadas e vitimadas pelo preconceito e pela arrogância. São os “loucos sociais”. Muitos não apresentam sequer um tipo de distúrbio aparente, mas são vistos como loucos e morrem como tal. Assim é a loucura. Ora clinicamente detectada. Ora socialmente decretada.



Salve, salve os "doidos" de Curaçá!!!!




"Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual...Eu do meu lado aprendendo a ser louco" .
Raul Seixas










quinta-feira, 6 de junho de 2013

Parabéns Curaçá

Fico a me perguntar, o que seria da nossa história ‘sem’ João Mattos e seu magnífico trabalho “Descripção Histórica e Geographica do Município de Curaçá”? Tal obra foi inicialmente apresentada no 5º Congresso Brasileiro de Geografia nos idos de 1916 e 10 anos depois fez-se livro. O seu trabalho foi unanimemente aprovado pela comissão avaliadora e o relator do parecer disse: “Mattos discorre com habilidade e argúcia sobre Curaçá, narra lacônica e abreviadamente os acontecimentos históricos do município”. O “breve” trabalho de João Mattos serviu de base para tantos outros. E, ainda hoje, após quase cem anos ele é a principal referência de resgate e registro da memória de “Pambú - Capim Grosso - Curaçá”. Sem ele ficaria bem mais difícil desvendar certos mistérios que ainda nos rodeiam. O Livro do Centenário de Curaçá reproduz alguns trechos de sua pesquisa e o sociólogo Esmeraldo Lopes sempre o menciona em Caminhos de Curaçá. Talvez esteja contido nestas três obras, a maior parte de registros de nossa história. 


Confesso que não entendo o porquê da pouca valorização da nossa história e dos nossos filhos. Pouco se vê a divulgação destes trabalhos. Se não fosse por eles, talvez vivêssemos num vazio, num mundo sem lembranças e de memórias perdidas e apagadas pela atrocidade do tempo.

Igreja Matriz, construída em 1819, bem antes de Curaçá ser Curaçá. Foto: Google

Há exatos 60 anos, comemorávamos o 1º Centenário, isso considerando a Lei Provincial nº 488 de 06 de junho de 1953, conforme registrado nas páginas 37 e 83 do livro de João Mattos, que transferiu para o então Porto do Capim Grosso, no Sítio Bom Jesus, que mais tarde teve o nome alterado para Curaçá, a sede da Vila de Santo Antônio do Pambú. Uma nova história começou ali, permeada de tantas outras de épocas imemoriais. 

Hoje Curaçá completa 160 anos a contar desde o dia da transferência de Pambú para Capim Grosso. Foi a partir desta data que nos tornamos o que somos hoje. É o que temos de referência e mesmo a sua instalação tendo ocorrido depois, o dia 6 de junho é um marco na gloriosa história de Curaçá. E se antes, há muito tempo, houve uma “grande festa" para comemorá-la, hoje sequer hasteamos nossa bandeira, cantamos o nosso “hino”, falamos sobre nossos antepassados, contamos histórias. E pior, sequer lembramos.

Talvez no próximo mês, no mesmo dia 6, comemoremos os 181 anos de história de “Pambú - Capim Grosso - Curaçá”. Mas hoje, o dia passou despercebido.