domingo, 12 de janeiro de 2014

Título de cidadão curaçaense: quem realmente merece essa honraria?

 
Título concedido a Maria Senhora. Foto: Carmem Iorrana

 Ultimamente a Câmara de Vereadores de Curaçá tem concedido um número relativamente grande de “Títulos de Cidadão Curaçaense”. Fico a me perguntar a quem interessa mais, ao político que fez o projeto para concessão de tal honraria ou ao dito cujo homenageado? O que Curaçá, de fato, ganha com isso? É simbólico, bem verdade, mas o título vai além de um “certificado”, pois leva consigo o gentílico da minha cidade, o adjetivo pátrio que eu e outros milhares enchem o peito de orgulho ao pronunciá-lo, ao dizer o que é. Pra ser curaçaense ou merecedor desse “privilégio” é preciso ser bem mais do que alguns “representantes do povo” conseguem enxergar.

O morador da cidade de Laguna-SC, Renato Souza, indignado com as indicações de alguns nomes disse o seguinte: “fico aqui imaginando quem deveria receber um título de cidadão honorário, pessoas notáveis, penso eu! Aquelas que conseguem fazer a diferença na cidade, que são exemplos de superação, aqueles que mesmo com tantas dificuldades tiram ‘leite de pedra’ para ajudar instituições carentes, asilos, abrigos, ou, mesmo na adversidade, conseguem se sobressair com ideias de baixo custo, mas com resultados expressivos. Um título que deve servir de orgulho para aqueles que em vida continuam lutando pelas coisas boas da terra e de referência para os mais novos que estão despertando para a longa caminhada”.

Quais são os critérios utilizados para as escolhas? O que precisa fazer/ser para se tornar um “cidadão curaçaense? Quais os verdadeiros interesses na indicação de nomes? Qual o limite de sugestões por vereador? Como a população pode participar do processo? Eu posso indicar um nome? Essas são apenas algumas perguntas que zanzam na minha cabeça e na de muitos curaçaenses.
Dona Maria e Seu Nivaldo. Foto: Acervo pessoal de Zé Raimundo


Certo dia, numa aula sobre a História de Curaçá, um aluno manifestou interesse em fazer uma pesquisa sobre “a origem das padarias”. A ideia era fazer a partir da memória dos mais velhos, onde ainda sobrevive nosso passado, a trajetória das padarias em Curaçá. Logo vieram à tona o nome de vários padeiros, dentre eles surgiu o de Nivaldo Santos. Como um de seus filhos trabalhava na mesma escola, eu imediatamente o procurei para saber informações sobre o seu pai e para pedir uma foto do mesmo. Mas um comentário chamou minha atenção. “É verdade, todo mundo ganha o título de cidadão curaçaense, mas meu pai nunca foi reconhecido”, lamentou José Raimundo durante a nossa rápida conversa. Coincidentemente, nesse mesmo dia, a Câmara agraciava mais alguns nomes com esse título.

Imagine quantos curaçaenses não se indagam sobre essas homenagens. Está mais que na hora, aliás já passou do tempo, de participarmos dessas escolhas, seja sugerindo nomes ou analisando aos que forem indicados pelos “nossos” vereadores. Temos a obrigação de corrigir erros, do passado e do presente, fazer justiça e creditar como “curaçaense” quem realmente merece. Ainda existem várias pessoas que estão na nossa terra há muito tempo e nunca foram lembradas. Gente que tem contribuído incessantemente na educação, na arte e na cultura da nossa querida Curaçá. É preciso cuidado, pois quando se dá um “título de cidadão”, se iguala o agraciado ao povo da terra. E será que certos nomes indicados podem ser comparados a Dona Nenzinha, Mãe Sérgia, Zito Torres, Meu Mano, Esmeraldo Lopes ou a qualquer trabalhador e cidadão curaçaense?