quinta-feira, 10 de abril de 2014

Lalá: "louco" por opção, astuto por natureza

Lalá em encontro político. Foto: Luciano Lugori
Seu nome de batismo é Josiná Possidônio da Silva, mas ele atende pelo epíteto de Lalá.

- Lalá, você se acha doido?

Foi a primeira coisa que eu quis saber.

- Às vezes eu fico meio “baruado”.

Esse foi o adjetivo que o próprio se deu. Confesso: foi a primeira vez que escutei essa palavra, que, pela encenação feita com olhos e mãos, ao pronunciá-la, deve significar algo perto de “maluquice”, quem sabe até uma espécie de “neologismo insano”. Mas Lalá, ao contrário de muitos, não se incomoda com rotulações.

E logo começa a me contar sua história:

- Nasci nu e sem luz, só a do candeeiro.

Do nascimento, em 10 de outubro de 1952 pra cá, Lalá teve uma vida cheias de histórias.

Começou a “ralar” desde cedo e zanzou – até hoje – por diversas ocupações. De ajudante de pedreiro a mecânico. De garçom a “desentupidor de fossa”. Segue a lista que o próprio perpetrou: trabalhou na Igreja, onde conheceu e frisou o nome do Padre José Luna; na Pedreira de Quinca Badeca; na Bonfinense, como colaborador; na Rovel, com venda de couros; no Bar e Lanchonete Primavera e também no Vaporzinho, ambos como garçom. Tudo isso pelas bandas de Juazeiro. Ainda trabalhou na pedreira de um tal de delegado Nozinho, em Carnaíba do Sertão. Já em Curaçá prestou serviços na Prefeitura como fiscal das "varredeiras" e – atualmente – é diarista no SAAE, onde executa desobstrução de esgotos.

Josiná continua relatando, com minuciosos detalhes, a sua relação com a loucura.

- Doutor, tô com um sapo na cabeça.

Disse Lalá ao médico em Recife.

- Doutor, só penso em matar a mulher e comer as filhas.

Uma pessoa que pensa – e diz – isso, certamente, não é normal. Só um exame de “sanidade mental” comprovaria se essa conversa desconexa de Josiná com médico era um “caso de doidice”. E ele fez uma série de exames. Passou por um bocado de clínicos e especialistas. João Oliveira, Wilson, Djalma, Elias, Juvêncio, Honório e Deuilson, o qual, segundo conta, lhe deu um “choque”. Durante os exames e sessões caiu ao chão, se bateu, virou os olhos. O homem é doido mesmo. E a tal “junta médica” encostou Lalá no início dos anos 80.

- Josiná, deixe eu ver o que médico colocou no seu laudo?

Ele finge nem ouvir a pergunta e continua com seus causos.

- Registre tudo, pode escrever aí.

Sobre a infância ele revelou coisas as quais prefiro não colocar aqui. Não por não ter sido importante para ele, mas por precaução e para evitar o vexame alheio com a exposição de sua memória insana. E pergunto mais uma vez:

- Você é doido?

Ele olha para mim, responde e sai correndo.

- Quem sabe é Deus.

Josiná está com quase 62 anos. Teve duas mulheres, Maria José e Andréa, que ele ainda insiste em dizer que são suas. Tem oito filhos e 15 netos. Às vezes é um tipo de “repórter” e chega todo dia com uma notícia. Outras vezes “dá uma de político” e faz discursos inflamados e comoventes. Enche os olhos de lágrimas quando fala de Patamuté. Se Lalá é louco ou se faz, eu não sei. E também não é da minha conta. Mas uma coisa eu posso afirmar: ele é uma figura emblemática na cidade.

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