quinta-feira, 22 de maio de 2014

José de Jesus: de restaurador de livros a Jorge “Doido”

Jorge Doido. Foto: Luciano Lugori
Ele tinha 14 anos quando chegou a Curaçá. Antes disso morava na capital baiana, onde nasceu no dia 05 de abril de 1963. Filho de Lindaura Maria de Jesus e de pai que nunca conheceu, conta sua mãe que se chamava Amaro dos Santos, foi batizado como José Jorge de Jesus, um nome forte e um tanto curioso. Primeiro, são três nomes que começam com a mesma letra, o “jota” (J), e cujos significados são distintos e ao mesmo tempo ligados – religiosamente falando – um ao outro, talvez isso seja apenas uma mera coincidência. Segundo, José e Jesus, nome e sobrenome, pai e filho, como prega à história bíblica. E terceiro, no meio do nome, Jorge, um dos santos mais devotados na religião católica.

Quem dera Jorge ser chamado de “Santo” ou ter crescido com a presença de um pai. Quem sabe se os caminhos não teriam sido outros. Ou não! Mas, entre pai e santo, o que ele foi mesmo, foi filho. E ainda jovem, bem adolescente, lá pelas bandas de Salvador, estudou no Colégio Salesiano de Salvador, em Nazaré, onde aprendeu a restaurar livros, consertando e costurando as capas com fios de nylon. Sobre essa época, Jorge diz:

- Trabalhei uns dois anos arrumando livros para serem reaproveitados pelas escolas. Mas não estudei quase nada.

Nesse mesmo período, ele foi avaliado por um psiquiatra que apontou problemas na sua saúde e o diagnosticou como epiléptico. Foi assim, de acordo com sua própria lembrança, que Jorge ganhou o sobrenome que carrega até os dias de hoje e, certamente, levará para o seu túmulo: Doido. Ele não se incomoda nem um pouco com isso, aliás, Jorge graceja muito toda vez que conversamos sobre loucura, especialmente a sua.

- Tem dias que eu fico meio agitado, meio danado. Penso em coisas que é melhor nem falar. Parei de frequentar o CAPS e de tomar o Gardenal.

E mesmo ele dizendo isso, eu insisto em perguntar:

- Mas você é se acha “doido”?

E ele imediatamente me responde:

- Nunca me viram jogando pedra.

Jorge seguramente não é “louco de pedra”, apesar de os olhos da sociedade o observarem sempre de maneira atravessada. Dessa sandice ele não escapa. Mas ele, que é sobrinho de Zé Caiano e neto de Júlia Cangula, sempre foi um labutador. Trabalhou como carroceiro nos tempos de João do Fumo e, desde setembro de 1980, como gari da Prefeitura Municipal de Curaçá, limpando a sujeira do povo de curaçaense, o mesmo que o estigmatizou como “doido”. Nos últimos dois anos mudou de setor e agora rala como jardineiro, zelando as plantas da Praça Marieta Bahia.

Salve Jorge, o santo e o doido!

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