quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Militantes da “intrépida” Trupe Ecológica continuam com “mutirão” de limpeza do “Velho Chico”

Voluntários da Trupe em ação. Foto/Divulgação

A Trupe realizou no último domingo (1º) a quarta ação cidadã nas margens do Rio São Francisco, em Curaçá, na Bahia. O grupo aproveitou o feriadão e continuou com a retirada dos detritos, especialmente de pneus, que foram jogados na beira e dentro do rio. A mobilização coletiva em prol do “Velho Chico” tem logrado a cada atividade a adesão de novos voluntários. Os integrantes da trupe planejam promover a educação ambiental pra população curaçaense.

De acordo com Wilzemberg Barbosa dos Santos, idealizador do projeto, um dos objetivos do grupo é alinhar a comunidade à sustentabilidade. “É um projeto inovador. Todos nós precisamos do rio. Destarte, o projeto não deve se ater apenas no plantar e no limpar. É preciso difundir os princípios da sustentabilidade”, frisou o coordenador do grupo. A trupe, por meio dessa iniciativa, pretende tornar “a beira do rio” em um local de convivência e de bem-estar social e ambiental. 

A “inTÉ!”, como a equipe se apelidou, buscando novas parcerias, entregou ontem (3) dois ofícios, um protocolado na Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (SIESP), solicitando o recolhimento do entulho acumulado das últimas atividades; e outro entregue ao representante local da Mineração Caraíba S/A, pedindo a doação de grades de proteção e tambores para coleta de lixo. Segundo os organizadores da campanha, outros documentos serão encaminhados às universidades mais próximas, a exemplo da Uneb e da Univasf, ambos requerendo a concessão de mudas nativas.

As ações da “intrépida” Trupe Ecológica acontecem sempre aos domingos, das 6h às 8h, próximo ao porto das barquinhas. A participação é livre e voluntária, portanto, qualquer pessoa da comunidade pode contribuir com o grupo. Mais informações poderão ser obtidas pelo e-mail trupeecologica@gmail.com ou acessadas no blog do projeto no endereço trupeecologica.blogspot.com.br


Ascom/Trupe Ecológica

quarta-feira, 27 de maio de 2015

O fantasma pavoroso dos sertões: a presença de Lampião e seus sequazes em terras curaçaenses (1926-1933)

Existem pelo menos cinco registros oficiais da passagem do “rei do cangaço” pelas bandas de Curaçá. Os periódicos pernambucanos A Província e o Jornal do Recife publicaram em suas páginas, entre as décadas de 20 e 30, várias proezas do bando de Virgulino no território curaçaense. Em setembro de 1926, na matéria mais antiga encontrada na pesquisa, a imprensa registrou a “incursão do bandido, com seu sinistro grupo, no território baiano, depredando o município de Curaçá”. Outros quatro episódios de Lampião foram publicados por esses mesmos jornais em agosto de 1929, fevereiro de 1930, agosto de 1931 e novembro de 1933. Certamente, o anti-herói nordestino perambulou mais vezes pelo sertão de Curaçá, aterrorizando seu povo e reptando as leis.


Na matéria intitulada “A supremacia do cangaço”, publicada do Jornal do Recife, em 18 de Agosto de 1931, o autor do artigo Estevão Soares cobra veementemente do governo ações mais enérgicas e dos homens mais coragem para combater aquilo que ele avocou de “façanhas praticadas pelo célebre bandoleiro Lampião e seus sinistros sequazes”. No mesmo texto, aparece mencionado mais uma passagem da “fera sertaneja” por Curaçá, onde assassinou 12 pessoas, dentre elas, o tabelião Domiciano Pereira, que foi brutalmente esquartejado.

As publicações “O fantasma pavoroso dos sertões: novas e tremendas façanhas de Lampião e sua gente” e “Lampião na Bahia”, ambas do Jornal do Recife, noticiaram a selvageria dos cangaceiros em algumas cidades baianas. Leonardo Motta, autor da segunda crônica, registrou a presença de Virgulino na região Várzea da Ema, em 29 de Junho de 1929, onde assaltou fazendas, incendiou casas e matou a faca cento e sessenta e oitos ovelhas que encontrou presas num curral. Na ocasião, o cangaceiro foi perseguido por policiais do Uauá, mas conseguiu escapar da emboscada. Lampião pernoitou em Poço de Fora no dia 30 de Junho de 1929 e depois partiu com o seu séquito caatinga adentro.


Trecho do Artigo "NOVAS NOTÍCIAS VELHAS" 
Vilas de Pambú, Bom Jesus da Boa Morte, Capim Grosso e Curaçá na imprensa baiana e pernambucana e em outros documentos oficiais (1816-1933)
Luciano Lugori

terça-feira, 31 de março de 2015

Breve Histórico da Construção do Cais de Curaçá

O Cais de Curaçá em 1965. Fonte: Revista Delfos/Acervo Curaçaense
O cais[1] de Curaçá teve sua construção iniciada no fim da década de 40. A estrutura foi feita para evitar que as águas do rio atingissem às ruas da cidade, principalmente durante as cheias. Como, praticamente, não existem registros – pelo menos não foi encontrado nem acervo da prefeitura nem na Biblioteca Municipal – ou eles se perderam ao longo dos anos, informações a seu respeito sobrevivem apenas nas reminiscências dos mais velhos, talvez os únicos depositários dessa história.

Também não existem registros fotográficos da sua edificação. A imagem mais antiga está publicada na Separata da Revista Delfos, nº 5, de 1965, quando os professores Fausto Luiz de Souza Cunha e Antonio Carlos Magalhães Macedo, da Universidade do Estado da Guanabara, estiveram em Curaçá, numa viagem de reconhecimento geológico e paleontológico da região.  A foto do cais (ver foto acima) aparece sob a seguinte legenda “Curaçá, margem direita do São Francisco. Vê-se o paredão construído para proteger a cidade das enchentes do rio [...]”.   

Segundo informações cedidas pelo Sr. Manoel Alves dos Santos, conhecido como “Manoel de Salu”, a sua construção se deu em 1949, à época o prefeito era Dr. Pompílio de Possídio Coelho, mas a obra só foi concluída na gestão seguinte, com o Dr. Jayme da Silveira Coelho. Seu Manoel, que trabalhou como pedreiro, também afirmou que o Deputado Manoel Novaes, juntamente com a Comissão do Vale do São Francisco, incentivou a realização do cais.

De acordo com as lembranças de Seu Manoel, a construção em 1949 foi interrompida por causa de uma enchente que durou cerca de um mês e alguns dias, sendo posteriormente reiniciada. Alguns nomes vieram à sua mente: “O encarregado da obra era o mestre Doro e o fiscal geral seu Abílio. Os senhores Zé Porfírio, Zé Cuíca, Zé Antonio de Judite, Francisco Bispo também fazem parte dessa história. Eles ajudaram a construir essa barreira, evitando que a água alagasse a cidade”, recorda seu Manoel de Salu.

É importante frisar que essas informações não são oficiais, podendo, portanto, divergir ou convergir com outras pesquisas. No livro Caminhos de Curaçá, do professor e sociólogo Esmeraldo Lopes, o mesmo deixou registrado que o cais foi construído em finais da década de 40, mas não confirma que se estendeu até 1952. Porém, registra que o Deputado Manoel Novaes foi o responsável por sua solicitação.

No trecho abaixo, Esmeraldo relata como era Curaçá no período de construção do cais:

Não tinha cais. As mulheres lavando roupa no rio. Da rua para o rio, um ladeirão sem fim, cheio de pedra. [...] No domingo, na segunda-feira, os carregadores de saco gemendo com os sacos nas costas, rompendo a subida rio acima. Na água paquetes e paquetes; no seco animais e gente. A beira do rio era uma rua de gente. O governo decretou: construir cais em Curaçá. Gente chegando para trabalhar na obra. Obrão sem fim, de grande que era. O paredão de pedra subindo, os homens trabalhando. Um buracão danado se formando. Fazer enchimento. Carregar areia da ilha. Uma porção de canoas nessa labuta. Não dava. Contrataram gente para carregar terra. Jegue que não acabava mais. Não davam conta da obra no tempo dito. Trouxeram caminhão. Mais de seis meses de trabalho nesse serviço de transporte de terra, até tudo ficar pronto.

Atualmente existem três pedreiros vivos que trabalharam na construção do paredão do cais. Seu Manoel de Salú, Seu Zé Porfírio e Seu Chico Bispo. Ambos participaram desta pesquisa e contribuíram com seus testemunhos.

Seu Chico BispoFoto: Diego Gomes


[1] O caís é uma estrutura, geralmente uma plataforma fixa em estacas, ou região à beira da água. É também um nível mais alto ou calçada, comumente recoberto de pedras ao longo de um rio ou canal.